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O WhatsApp invadiu de vez o mundo corporativo. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 95% dos que possuem celular já utilizam aplicativos de mensagens para se comunicar, inclusive no trabalho.

Esta semana falamos sobre os pontos que o Recursos Humanos deve se atentar quando o colaborador usa seu celular pessoal e quando ele usa o celular da empresa, principalmente, com a ferramenta.

Além da preocupação com a perda de produtividade, uma das principais dificuldades é a questão dos limites de privacidade, o que pode implicar para a empresa o compartilhamento de informações até mesmo sigilosas.

Uma matéria da revista Você RH mostra o posisionamento de algumas empresas, como a Tigre, multinacional de construção civil, e uma lista com 4 passos para evitar problemas com o ­WhatsApp. Confira:

Infográfico: Você RH

Na Tigre, multinacional de construção civil, desde setembro não existem mais telefones fixos para os 1.100 funcionários administrativos­. Em troca, todos receberam um celular — do jovem aprendiz ao diretor. “Fizemos isso para reduzir o custo com telefonia, mas também pensando em mobilidade”, diz Patricia Bobbato, gerente de liderança e cultura da empresa.

Para evitar complicações trabalhistas, a ­Tigre realizou treinamentos com todos os empregados, gestores ou não, em parceria com o departamento jurídico. “Para os líderes demos orientações relacionadas aos limites. Por exemplo, não mandar mensagem fora do expediente.

Para quem é operacional, explicamos que eles têm total liberdade de não responder a demandas fora de seu horário de trabalho. E todos assinaram um termo de compromisso.”

Hoje, o WhatsApp é usado pela companhia como meio oficial de informação, com mensagens sendo enviadas concomitantemente ao celular e por e-mail. Desde 2017, a área de comunicação possui uma conta por meio da qual repassa os avisos aos grupos em que estão os trabalhadores.

E, se por um lado a adoção dos telefones móveis acabou com a questão dos limites de privacidade, já que o aparelho agora é da Tigre, Patricia admite que, por outro, a corporação ainda está sujeita ao mau uso por parte das pessoas.

“No fundo é uma questão de bom senso. Estamos realizando uma mudança de cultura, que começou há quatro anos, no sentido de empoderar os empregados e tratá-los como adultos. E isso inclui responsabilização por suas posturas”, completa a executiva.

Ruy Copolla Jr., professor na Faculdade de Direito São Bernardo, lembra que é importante conscientizar os funcionários de que condutas antiéticas não são um problema apenas da empresa e que, muitas vezes, respingam também nos profissionais. “Não é raro registros de conversas, áudios e imagens provocarem demissão por justa causa. Em casos envolvendo racismo, assédio moral e sexual, a Justiça tende a concordar com isso, independentemente dos meios pelos quais foram cometidos”, afirma o advogado.

Vale ressaltar que, se a empresa possuir um programa de compliance e receber uma denúncia referente ao mau uso do ­WhatsApp, ela poderá abrir um processo de apuração e requerer, por meio de autorização judicial, o acesso ao aparelho do funcionário — mesmo que a ferramenta esteja instalada no smartphone pessoal.

Sem tapar o sol

Por essas e outras razões, não é mais recomendável ignorar o WhatsApp. De agora em diante ele precisa fazer parte não só da comunicação corporativa como também dos códigos de conduta, que devem trazer recomendações explícitas para que os trabalhadores entendam com clareza que tipo de conversa é arriscado ter e quais conteúdos é permitido (ou não) compartilhar.

Foi isso que fez a Vicunha, empresa têxtil que emprega 7.300 pessoas. Durante a atualização do código de conduta em 2017, a fabricante incluiu uma cláusula sobre o uso de redes sociais e reforçou os cuidados em treinamentos situacionais com os empregados. “Temos muitas fábricas, nas quais uma das principais formas de comunicação é o WhatsApp.

Por isso, nós damos recomendações de como divulgar informações da organização no aplicativo e como respeitar os colegas. O uso é incentivado, mas a responsabilidade é do funcionário”, afirma Alexandre Ferreira, diretor de recursos humanos da Vicunha.

A companhia pretende ainda fazer um treinamento sobre a disseminação de fake news em 2019. “Acreditamos que seja nosso papel social fazê-los refletir sobre como difundem informações e educá-los sobre o uso dessas ferramentas”, diz o executivo.

Veja, a seguir, quatro passos para evitar problemas com o ­WhatsApp em sua empresa.

 

1. Atualize o código de ética

Embora não pareça, ainda é confusa para muitos funcionários a ideia de que podem ser responsabilizados por conversas informais em aplicativos de mensagens, fora do ambiente corporativo.

Não à toa, recomenda-se criar um capítulo só sobre redes sociais no código de ética, com cláusulas específicas para cada plataforma, sobretudo as mais críticas, como Facebook e WhatsApp.

Especialista no tema, Gisela Freire, advogada do escritório Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto, afirma que disseminar a informação é a única maneira eficiente de se anteceder ao problema e evitar futuros litígios para a companhia. “é preciso haver um manual detalhado de regras, prevendo situações tanto em redes sociais quanto em aplicativos de mensagens”, afirma.

Dar exemplos concretos do que é inadmissível ser feito — e por quais razões — é importante para que o funcionário não alegue, em caso de penalização, falta de clareza sobre a questão.

2. Use treinamentos para exemplificar

Em um hospital paulistano, um time de médicos compartilhava fotos de pacientes para discutir casos. Embora proibido, os profissionais não entendiam que aquilo era um problema e desconheciam tal restrição — tanto que o grupo contava, inclusive, com um gestor.

Não basta, portanto, ter um código de conduta que funcione apenas como “letra morta”. É fundamental oferecer capacitações que ilustrem situações e simulem conversas que possam caracterizar desvios éticos. “Essa é uma pauta nova, e o manual por si só não é suficiente. Até porque, muitas vezes, ele fica na gaveta. É preciso promover ações de reforço e comunicação”, diz Jefferson Kiyohara, da Protiviti.

3. Prepare a liderança

Outra prática indicada é realizar workshops e treinamentos exclusivos para a chefia. Hoje, devido à facilidade da ferramenta, muitos gestores já preferem usar o WhatsApp a enviar e-mails.

O problema é que quem tem cargo alto está ainda mais suscetível a escorregadas, como enviar mensagens de texto que, mais tarde, configurem assédio, ou fazer pedidos fora do horário de expediente, ultrapassando a linha virtual entre casa e escritório. E não é só isso.

No pantanoso terreno do WhatsApp corporativo, até os emojis são arriscados. Um coração mal colocado, por exemplo, pode soar como paquera. Uma carinha brava no lugar errado pode ser mal interpretada.

Esse tipo de cuidado é importante porque, dependendo do contexto, a organização pode ser responsabilizada criminalmente. “Já existe jurisprudência que entende que acionar o empregado pelo aplicativo fora do expediente é trabalho de sobreaviso”, afirma Bruno Carramenha, da 4CO.

4. Não proíba

De acordo com especialistas, tentar criar grupos oficiais, com muitas regras, é quase garantia de que ninguém vai usá-los e outros surgirão por fora. O ideal é entender que o WhatsApp é como uma rádio-peão amplificada e que a saída mais inteligente é oferecer orientações e suporte em vez de coibir ou torná-lo institucional demais.

Ajuda, nesse caso, ter um canal de denúncia confiável aos olhos dos empregados e uma comunicação que deixe evidente que más condutas no WhatsApp também devem ser reportadas à companhia, pois receberão as devidas tratativas.

Fonte: Você RH

Imagem: Freepik